BlogDoc premia o Documentário Brasileiro do Ano

Elena, de Petra Costa
O filme Elena foi eleito o Documentário Brasileiro do Ano pelo júri de especialistas organizado pelo site BlogDoc, da Cross Content. Primeiro longa-metragem de Petra Costa, conta a busca da diretora pela irmã, que se mudou para Nova York nos anos 80 para trabalhar como atriz e nunca mais voltou.

O júri da premiação é composto por 20 profissionais ligados ao cinema. Fazem parte do grupo cineastas, como Fernando Meirelles, Suzana Amaral e Lucia Murat, estudiosos, como Esther Hamburger, Jean-Claude Bernardet e Eduardo Morettin, e jornalistas, como Eliane Brum e Carlos Alberto Mattos (veja a relação completa no final deste texto). A lista de votação foi formada pelos 53 filmes que estrearam no circuito comercial em 2013 (até 13/12). Os jurados foram convidados a escolher o seu preferido, sem a obrigatoriedade de terem visto todos os títulos.

“Dos que vi há muitos muito bons, mas fico com Elena, por ser de uma sensibilidade impressionante”, alega Fernando Meirelles, criador de sucessos como Cidade de Deus e O Jardineiro Fiel. “O filme conta uma história que nos interessa de uma forma poética e com imagens impressionantes.”

“Não há no filme nem a objetividade dos relatos documentais nem a subjetividade puramente confessional dos filmes em primeira pessoa. Elena busca uma terceira via, que é a transformação do fato em memória e desta em reinvenção formal”, concorda Carlos Alberto Mattos, crítico de cinema e editor da revista Filme Cultura, também integrante do júri. Elena foi também o documentário mais visto no Brasil em 2013, com 57.773 espectadores, segundo dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine).

Em segundo lugar na votação ficou Mataram Meu Irmão, de Cristiano Burlan. O documentário mostra a tragédia familiar mesclada à tragédia da falta de opções e cidadania nas periferias das grandes cidades.

As Hiper Mulheres, de Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro, e Doméstica, de Gabriel Mascaro, empataram em terceiro lugar. “Doméstica é um filme importante porque tangencia questões éticas, estéticas e políticas trazendo à superfície uma densidade de relações que fala muito de hábitos, cultura e tradição no país”, opina Patricia Rebello, pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e integrante do júri.

MERCADO

O ano de 2013 marcou um recorde de número de documentários brasileiros lançados nos cinemas. Foram 54 filmes até 31 de dezembro, pelo levantamento do BlogDoc com base nos dados da Ancine e na programação divulgada pelas salas. Um número bem maior do que os 34 lançamentos de 2012 e os 41 de 2011, segundo a Ancine. “Até muito pouco tempo atrás, talvez menos de dez anos, filmes lindos, como Elena, A Batalha do Passinho e Morro dos Prazeres, só seriam possíveis em festivais ou sessões especiais em centros culturais. E como é importante que estes filmes estejam ao lado de comédias, romances e dramas nacionais e estrangeiros”, analisa Patricia Rebello.

De 1995 a 2000, o número de lançamentos oscilava entre um e cinco ao ano, segundo a Ancine. A quantidade de documentários no circuito comercial começou a se ampliar em 2001, com oito títulos, e 2002, com 14.

“O ano de 2013 foi bastante positivo para o cinema documentário brasileiro, tanto em número de lançamentos quanto em público alcançado”, analisa Marcelo Bauer, editor do BlogDoc. “Filmes como Elena e O Renascimento do Parto ficaram mais tempo em cartaz e conseguiram mais salas do que a média dos documentários brasileiros. Isso mostra que há espaço para a distribuição em cinema, desde que os títulos estejam em sintonia com os interesses do público frequentador.”

O JÚRI

  • Fernando Meirelles – Precursor do vídeo independente no Brasil nos anos 1980, atuou principalmente na TV até os anos 90. A partir do sucesso de Cidade de Deus (2002), pelo qual foi indicado ao Oscar de Melhor Diretor, sua carreira de cinema toma novo rumo, com elenco e produções globalizadas como O Jardineiro Fiel (2005), Ensaio sobre a Cegueira (2008) e 360 (2011).
  • Suzana Amaral – Diretora e roteirista. Realizou cinco longas-metragens, incluindo A Hora da Estrela (1985). Dirigiu mais de 50 produções de curta-metragem, a maioria documentários, para a TV Cultura. Atualmente, é professora da do curso de Cinema da Faculdade de Comunicação da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap).
  • Lucia Murat – Diretora e roteirista. Seu primeiro longa-metragem, o documentário-ficção Que Bom Te Ver Viva (1988), estreou no Festival de Toronto e trazia depoimentos de mulheres torturadas pela ditadura militar. Uma Longa Viagem (2011), seu último documentário, levou o prêmio de melhor filme do Festival de Gramado.
  • Aly Muritiba – Diretor de curtas e longas-metragens. Seu último filme, o híbrido A Gente (2013) estreou no Festival do Rio e encerra a Trilogia do Cárcere, composta ainda pelos premiados curtas A Fábrica (2011) – pré-selecionado para o Oscar – e Pátio (2013) – vencedor de dois prêmios do É Tudo Verdade.
  • Jean-Claude Bernardet – Um dos críticos mais importantes do Brasil, também é escritor, roteirista e ator e foi professor. Dedica-se há mais de 40 anos ao estudo crítico do cinema. É autor de vários livros sobre cinema e de três romances.
  • Esther Hamburger – Professora do curso de Audiovisual da Universidade de São Paulo crítica de TV, e diretora do Cinusp. Pesquisa diferentes formas de “apropriação dos mecanismos de construção da visualidade” na produção cinematográfica e televisiva recente.
  • Flavia Castro – Roteirista de ficção e não ficção. Seu primeiro filme como diretora foi Diário de uma Busca (2010), documentário premiado no Brasil (Rio, Gramado) e no exterior (Biarritz, Punta Del Este).
  • Joana Nin – Jornalista, professora e diretora de cinema. Lançou em 2013 nos festivais seu primeiro longa documental, Cativas: Presas pelo Coração.
  • José Joffily- Diretor, roteirista e produtor de cinema. Ganhou destaque no final da década de 70, com os curtas Curta-seqüência: Galeria Alaska e Copa Mixta. Desde então, dirigiu dez longas-metragens, incluindo Prova de Artista, seu mais recente documentário lançado em circuito comercial.
  • Ana Rieper – Diretora de cinema e de televisão. Fez sua estreia em longas-metragens com Vou Rifar Meu Coração (2011), um dos documentários brasileiros de maior público lançados comercialmente em 2012, após passagem por festivais como a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e o Festival de Brasília.
  • Liliana Sulzbach – Diretora, roteirista e produtora. Estreou no longa-metragem com o documentário O Cárcere e a Rua (2004), premiado no Festival de Gramado. Seu último curta-metragem documentário, A Cidade (2012), levou prêmios no É Tudo Verdade e no Festival de Brasília, além de ter passagem no festival americano SXSW.
  • Eduardo Morettin – Historiador, pesquisador e professor de História do Audiovisual da Universidade de São Paulo (USP). É conselheiro da Cinemateca Brasileira, do Instituto de Estudos Brasileiros, do Museu de Arte Contemporânea, da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin e do Cinusp.
  • Consuelo Lins – Professora da Escola de Comunicação da UFRJ e pesquisadora da Coordenação Interdisciplinar de Estudos Culturais (Ciec). Dirigiu os documentários Chapéu Mangueira e Babilônia, Histórias do Morro (1999) e Julliu´s Bar (2001).
  • Ilana Feldman – Pesquisadora, crítica e realizadora. É doutora em Ciências da Comunicação pela USP, desenvolvendo a tese “Jogos de cena: ensaios sobre o documentário brasileiro”. Realiza Pós-Doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) sobre as escritas de si e o “teor testemunhal” da cultura, no documentário e na literatura, a partir dos diários cinematográficos de David Perlov.
  • Patricia Rebello – Doutora e mestra em Comunicação Social pela UFRJ, com pesquisa voltada ao cinema documentário. É curadora e membro do comitê de seleção de curtas-metragens do Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade.
  • Carlos Ebert – Diretor de fotografia com mais de 50 títulos na carreira, entre longas e curtas de cinema (ficção e não ficção) e trabalhos de TV. Entre os principais documentários  que fotografou estão  Vlado – 30 Anos Depois (2005), Do Luto à Luta (2005), À Margem da Imagem (2003) e o híbrido Nem Tudo é Verdade (1986).
  • Eliane Brum – Jornalista, escritora e documentarista. É autora de três livros-reportagem e um de ficção. Codirigiu com Débora Diniz o documentário Uma História Severina (2005) e, com Paschoal Samora, o longa Gretchen Filme Estrada (2010).
  • Carlos Alberto Mattos – Jornalista, crítico de cinema e autor de diversos livros sobre o assunto. É editor da revista Filme Cultura, do Ministério da Cultura, e mantém um blog de resenhas e comentários sobre cinema.
  • Aline Senzi – Jornalista formada pela Escola de Comunicações e Artes da USP, é repórter do BlogDoc.
  • Marcelo Bauer – Jornalista com pós-graduação em Cinema Documentário, é editor do BlogDoc e diretor da Cross Content. Também dirigiu três webdocumentários, dois deles reconhecidos pelo Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.

VOTAÇÃO POPULAR

O BlogDoc também realizou uma votação popular, por meio de enquete na internet. Neste caso, o vencedor foi Santo Marcos, com 31,8% dos votos, seguido de O Renascimento do Parto (22%), Satyrianas (18,6%) e Walachai (13,5%). Veja a lista completa.

A votação on-line não tem características de pesquisa científica, por não haver controle da amostragem de participantes. No total, foram computados 28.787 votos.

SOBRE O BLOGDOC

O BlogDoc é o primeiro site especializado em documentário hospedado em um portal nacional de grande audiência. Produzido pela Cross Content em parceria com o portal R7, o BlogDoc acompanha os lançamentos no cinema, os principais festivais e os destaques da programação na TV. Lançado em outubro de 2012, já publicou mais de 100 resenhas. Além do site, mantém presença no Facebook e no Twitter.

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